Um vocalista armado em Elvis e um teclista com um instrumento comprado a preço de saldo. Melodias repetitivas que pervertiam, eletronicamente, o rockabilly e o doo-wop quando o que a malta queria era punk. Concertos que começavam com vaias e terminavam com cadeiras a voar. Tinha tudo para correr mal. Estranhamente, correu bem e tornou-se a história dos Suicide.
Texto e fotografia de José Miguel Lopes
Ainda hoje, volvidas tantas décadas desde a atribulada Nova Iorque que os viu nascer (nos anos ’70), continuamos a olhar para os Suicide como um OVNI musical. Qual era, afinal, a probabilidade de um escultor que dormia na rua e de um teclista com background no jazz terem não apenas a química necessária para criar algo em conjunto, mas também a capacidade de conseguirem sobreviver a toneladas de hostilidade social, comercial e auditiva?
Talvez com sorte, percalços, resiliência, desespero e atrevimento para fazer música como ainda não se tinha ouvido. Mas como definir aquilo que este projeto (com apenas dois membros e um instrumento digno desse nome) fazia? Era música eletrónica, mas sem a erudição dos pioneiros na área. Era música com apelo rock, mas sem qualquer guitarra ou bateria. Era música pop – mas daquela que ninguém queria cantar. E era, enfim, qualquer coisa parecida com rockabilly e doo-wop, embora contaminados por um futuro distópico.
Talvez com sorte, percalços, resiliência, desespero e atrevimento para fazer música como ainda não se tinha ouvido. Mas como definir aquilo que este projeto (com apenas dois membros e um instrumento digno desse nome) fazia? Era música eletrónica, mas sem a erudição dos pioneiros na área. Era música com apelo rock, mas sem qualquer guitarra ou bateria. Era música pop – mas daquela que ninguém queria cantar. E era, enfim, qualquer coisa parecida com rockabilly e doo-wop, embora contaminados por um futuro distópico.