Conhecer duas ou três músicas de um artista ou projeto é fácil. E acompanhá-lo durante um álbum inteiro? Dependendo dos casos, pode haver tempo a perder, mas também muito mais a ganhar.
Texto de José Miguel Lopes
com fotografia de Luís Freixo
com fotografia de Luís Freixo
No outro dia, estava a pensar sobre quais seriam as minhas músicas preferidas de sempre. Não ia muito avançado nessa lista mental quando me apercebi de algo deveras curioso: nela marcavam presença — entre muitos outros — Brian Eno, Patti Smith, Kraftwerk, Yoko Ono, GNR (especialmente os períodos com Vítor Rua ou Alexandre Soares) e Radiohead, embora eles não estivessem lá exatamente à custa dos respetivos singles ou temas mais conhecidos.
Nada disso: era uma lista onde dezenas de deep cuts conviviam paredes meias com algumas daquelas músicas que (quase) toda a gente conhece e respeita. Apercebi-me, um pouco depois, que o filtro que motivava as minhas escolhas não era o snobismo, mas sim a forma como, nos últimos anos, me fui relacionando com o hábito de ouvir música. Cada vez mais, comecei a enveredar pela lógica dos álbuns completos.
E se hoje venho com esta conversa, é porque gostava que esta arte não se perdesse numa altura em que a pressão pela novidade e a volatilidade da nossa atenção atinge recordes diários. Não deixa, aliás, de ser irónico que a época em que o acesso à música se tornou cada vez mais fácil e gratuito corresponde também àquela em que ela começou a parecer-nos mais descartável, persistindo cada vez menos na nossa memória.
Nada disso: era uma lista onde dezenas de deep cuts conviviam paredes meias com algumas daquelas músicas que (quase) toda a gente conhece e respeita. Apercebi-me, um pouco depois, que o filtro que motivava as minhas escolhas não era o snobismo, mas sim a forma como, nos últimos anos, me fui relacionando com o hábito de ouvir música. Cada vez mais, comecei a enveredar pela lógica dos álbuns completos.
E se hoje venho com esta conversa, é porque gostava que esta arte não se perdesse numa altura em que a pressão pela novidade e a volatilidade da nossa atenção atinge recordes diários. Não deixa, aliás, de ser irónico que a época em que o acesso à música se tornou cada vez mais fácil e gratuito corresponde também àquela em que ela começou a parecer-nos mais descartável, persistindo cada vez menos na nossa memória.